“Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente.” Gênesis 2.7
Como pode a vontade de nosso Pai ser realmente feita na terra como é feita no céu? Como podem Seus desejos e intenções serem realizados na terra, dominada pelo mal, sob a tirania de Satanás e povoada por homens teimosos e insubordinados? É possível? Pergunto mais, os desejos de meu Pai podem ser cumpridos em mim, nesta pequena porção de argila humana, neste fragmento de “terra”?
Jesus Cristo não foi um idealista do inacessível, não se entregou a sonhos vazios nem orou preces impossíveis. Quando orou, ele com certeza não pensava que a vontade de Deus pudesse se tornar realidade nos corações dos não convertidos e daqueles que não estão em harmonia com o domínio do Rei. Sabemos que, no porvir, vontade de Deus será completamente feita na terra, em uma “nova terra e novo céu“. Porém hoje resta o nosso pedido: “Pai Celestial, que a Tua vontade seja feita nesta pequena porção de terra que sou EU, teu filho, aqui e agora, assim como algum dia será feita em toda a terra.”
Isto seria simples e possível se nós não tivéssemos a nossa própria vontade, sendo este o único impedimento para a realização plena da vontade do Pai. Não somos bonecos que saltam e rodopiam como marionetes ao puxar de um cordão; pelo contrário, fazemos nossas escolhas e tomamos nossas decisões. Com isso temos duas “vontades” confrontando-se: “a vontade de Deus e a minha“ (Rm 7.19). Mais de noventa porcento da maturidade cristã, está em compreender que a vontade humana deve aquiescer àquela do Pai Celestial. Os que amam à Deus verdadeiramente, além de fazer a vontade do Pai têm grande alegria nisso. Se o reino dos céus estiver em meu coração haverá prazer em fazer a vontade do Pai.
A Bíblia mostra muitos exemplos de como Deus trabalha para moldar a “mente e a vontade” de homens e mulheres. Desses exemplos, um dos mais bonitos é o do oleiro trabalhando o barro. Este quadro nos mostra como uma porção de argila fétida, insignificante e rija, transforma-se numa peça de rara beleza, mediante a vontade do artífice. Leiam para isso Jeremias 18.1-6.
Prestem atenção nesta ilustração: “Um oleiro tomou uma porção de barro de uma fossa mal cheirosa e a colocou com precisão meticulosa no centro de uma pedra giratória, o que nos lembra o Salmo 40 – “Esperei confiantemente no Senhor; Ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, dum tremedal de lama, colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos”. Da mesma maneira que o oleiro trabalha para centralizar a argila na roda de pedra, Deus trabalha com muito carinho para centralizar minha vida em Cristo. Essa é uma tarefa que não pode ser feita na fossa onde está o barro, portanto eu tenho que ser levantado daquele tremedal de lama, e a Pedra sobre a qual sou posto não é outra senão Cristo, o Salvador.
Quando o oleiro sentou-se no seu banquinho para trabalhar o barro, seu olhar era brilhante. Já antevia naquele pedaço disforme de argila malcheirosa um vaso de beleza requintada. Sua intenção era fazer a melhor obra de arte a partir daquele barro. O velho começou a girar a roda mansamente. Ele ia então molhando suas mãos em uma bacia com água e dava formas ao barro, agora com a roda já girando rapidamente. O seu toque sobre a massa era sempre através da água. Com segurança o barro respondia à pressão aplicada por aquelas mãos umedecidas e a “vontade do oleiro verdadeiramente estava sendo feita na terra!” Assim também, a vontade de meu Pai e os Seus desejos são manifestados em mim por meio da água que é a Sua Palavra.
Enquanto eu observava, repentinamente a pedra giratória parou. O oleiro retirou uma pequena pedrinha do vaso; seus dedos haviam percebido a resistência desta partícula ao seu toque. Rapidamente ele alisou a superfície da obra de arte. E a pedra girou novamente. Agora aparece um grão de areia; nova parada e uma pequena marca. Um olhar de ansiedade transpareceu na face do velho homem. Será que aquela argila continha outras partículas de areia que pudessem resistir à sua mão e destruir seu trabalho? De repente o oleiro parou a pedra com tristeza e apontou um profundo sulco desigual que marcou todo um lado da taça. Desalentado, esmagou a taça e uma porção de barro disforme permaneceu amontoada na pedra. “O vaso, que o oleiro fazia de barro, se lhe estragou na mão” segundo Jeremias 18:4.
Por que esta obra prima rara e bela ficou arruinada nas mãos daquele mestre? Simplesmente porque ela havia resistido! Por que a vontade do meu Pai – Sua intenção de produzir pessoas realmente belas – muitas e muitas vezes resulta em nada? Por causa da resistência e dureza do coração humano. Por que, apesar dos Seus melhores esforços e paciência infinita com os seres humanos, muitos terminam em verdadeiro desastre? Porque resistem à Sua vontade, não cooperando e não concordando com a vontade do Pai. As mãos de Deus são impedidas pela nossa obstinação.
Perguntei então ao oleiro o que ele faria com aquele barro. Levantando os olhos tristes e nublados respondeu com um encolher de ombros velhos e cansados: “Vou fazer somente um tosco cinzeiro desta mesma porção de terra.” A pedra voltou a girar e em pouco tempo um cinzeiro simples estava formado. Aquilo que deveria ser uma taça magnífica e rara, era agora uma peça grosseira para recolher cinzas. Certamente esta era uma peça de segunda categoria, não sendo o produto da melhor intenção do oleiro. Conforme Jeremias 18:4 “Tornou (Ele, o Oleiro – meu Deus) a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu.”
A pergunta que surge é: -Serei uma obra de arte nas mãos de Deus ou um simples cinzeiro? A minha vida vai ser uma cálice deslumbrante, digno de conter o vinho excelente da própria vida de Deus, e do qual outros vão beber? Pai faça-se a sua vontade na terra, neste barro, “em mim”, assim como é feita no céu! Será que isso é o que realmente tem valor para mim?”
Essa ilustração do oleiro e do barro esclarece que a chave para o sucesso ou falha, na nossa modelagem sob as mãos do Mestre, está na maneira com que reagimos ao Seu toque. Descobrimos que, para sermos modelados por Deus é necessário obediência, num mundo onde o que importa é a rebelião, a resistência e a confrontação. Assim encontramos muitas pessoas que não estão dispostas a obedecer a vontade de Deus, já que obedecer significa sujeitar-se ou submeter-se a alguém. Por causa do nosso orgulho e egocentrismo é extremamente difícil aceitarmos isso. Quando nos pedem para obedecer, aí a nossa resistência aumenta. Porém a obediência está intimamente vinculada ao amor. Quando amo alguém, sua vontade está em primeiro lugar, e neste caso obediência não é sacrifício mas sim privilégio, conforme o Salmo 40.8 “Alegra-me fazer a tua vontade, ó Deus meu!” ou João 14.23 “Se alguém me ama, guardará minha palavra”. Amar a Deus e obedecê-lo, é fazer a sua vontade; aqui na terra!
A vontade de Deus engloba tudo o que foi por Ele estabelecido para o nosso bem-estar e benefício. Ele se interessa por nós, como filhos Seus. Fazer a Sua vontade é fazer o melhor para nós mesmos. Colocar-se contra a vontade do Pai tem como resultado uma confrontação catastrófica e conseqüente morte espiritual.
Para obedecermos a vontade de Deus, temos que pedir à Ele, que Seu Espírito Santo misericordioso, penetre nossas “mentes, vontades e emoções”, especialmente nossas vontades, “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” (Filipenses 2:13).