“Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens.” Lc 2.14
(Escrito em Dezembro de 1997…) No domingo dia 21 de dezembro, o Brasil jogou contra a Austrália na final da “Copa do Rei” (sugestivo este nome, não?), torneio organizado pela Arábia Saudita, país muçulmano; e o Brasil, foi campeão goleando a Austrália por 6 a 0. Um “banho de bola”, com três gols de Ronaldinho e três de Romário. No mesmo dia, para infelicidade dos palmeirenses, o Vasco foi campeão brasileiro em cima do Verdão.
Mas, eu não estou querendo falar sobre futebol. Quero falar, isto sim, sobre o Natal de Jesus. A “Copa do Rei” foi realizada em época de final de ano, tempo festivo para o povo cristão por causa da comemoração do Natal. Para nós, brasileiros, este fim de ano foi caracterizado por milhares de luzinhas coloridas enfeitando casas, prédios, lojas, árvores, jardins e tudo o mais que se possa enfeitar com elas. Essas pequenas lâmpadas, vindas da China nestes tempos de globalização, estão espalhadas por toda parte e tornam as cidades mais festivas e mais bonitas. Lembro-me que visitamos Águas de São Pedro com a Nadine no sábado. A cidade estava linda e reluzente.
Em função, talvez, desta profusão de lâmpadas coloridas aqui no Brasil, foi que ficou evidente aos jogadores e jornalistas brasileiros que estavam na Arábia, que aquele povo não celebra o Natal. A televisão mostrava os prédios, as casas, as árvores e tudo o mais, sem uma lampadazinha ao menos. E isso virou notícia no Brasil, afinal “eles não fazem festa no Natal”; não comemoram, não enfeitam nada, não dão presentes uns para os outros, não acreditam em Papai Noel, não se preocupam com isso. E isso se tornou notícia aqui!
Então, comecei a questionar o seguinte: Como eles nos veriam? O que seria “notícia” sobre nós, para os árabes? Será que o fato de termos tantas luzinhas penduradas seria motivo de reportagens, se a “Copa do Rei Pelé” fosse disputada no Rio de Janeiro? Como seria a visão muçulmana da nossa “Festa de Natal”? Pensei em uma notícia mais ou menos assim, publicada num jornal de Riad:
“As coisas aqui no Brasil são muito curiosas e diferentes. Nesta época do ano eles gostam de enfeitar toda a cidade usando pequenas lâmpadas que importam da China e outros penduricalhos como laços vermelho-e-verde importados dos Estados Unidos. Usam também s figura de um velho homem com adereços que lembram países onde há frio intenso e neve, embora aqui seja muito quente. Tudo fica muito bonito, embora sem originalidade, e esse povo brasileiro faz isso como parte das comemorações do Natal, festa que marca o nascimento de Jesus Cristo, profeta que eles acreditam ser o único meio de se alcançar a graça e misericórdia de Deus. Na verdade, eles creem que Jesus é o próprio homem Deus! Por isso, comemoram a festa de seu nascimento comprando coisas, num consumismo desenfreado, comendo exageradamente, presenteando-se mutuamente e divertindo-se com muita música e alegria, quase sempre às custas de grandes doses de bebida espirituosa. Como o dia do Natal é feriado, o povo costuma viajar bastante e por conta disso ocorrem muitos acidentes nas estradas, com muitas vítimas fatais. As praias ficam superlotadas, o que dá ensejo também à ocorrência de outros problemas. O povo também aproveita essa época do Natal para festejar o fim de mais um ano e a entrada de um Ano Novo. As festas de Passagem de Ano são marcadas por fogos de artifício, farras luxuriantes, libertinagem e muita bebida alcoólica. Aproveitam também para fazer, na praia, oferendas a diferentes deuses populares por aqui. Nesta época o povo gosta de se vestir com roupa branca, para que possam receber bons fluidos, no que também acreditam. E as lampadazinhas brilham em toda parte! Tudo muito diferente de Riad, cidade que tão bem conhecemos e amamos!”
“Nas estrelas vejo a sua mão, e no vento ouço a sua voz. Deus domina sobre terra e mar! E o que ele é prá mim? Eu sei o sentido do Natal, pois na história tem o seu lugar. Cristo veio para nos salvar! O que ele é prá mim? Até que um dia seu amor senti, sua imensa graça recebi, descobri então que Deus não vive longe lá no céu, sem se importar comigo! Mas agora ao meu lado está, cada dia sinto o seu cuidar, ajudando-me a caminhar! Tudo ele é prá mim! Tudo é Jesus para mim!”
Tatuí, 23 de Dezembro de 1997